Ponto de vista: Falando por quem não pode falar

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Joaci Góes

Ao querido amigo e operoso prefeito Bruno Reis. 

Independentemente de outas avaliações, parece-nos fora de dúvida que os vegetarianos, em razão de sua implícita piedade dos animais, ocupam um degrau acima dos carnívoros, no plano largo da moralidade, sendo, na maioria esmagadora dos casos, pessoas pacíficas, cordiais, respeitosas, dotadas de temperamento ameno e, por tudo isso, agradáveis e de fácil convivência.  

O indiano Sidarta Gautama, o Buda (563 – 483 a. C.), ensinou que tratar os animais com cordialidade, aprendendo a ama-los, genuinamente, é um passo importante para a boa convivência entre os humanos. Quanto mais repulsivo, à nossa percepção, for o animal, maior será o desenvolvimento do afeto e da paz entre as pessoas, segundo Buda, como desenvolvemos em nosso livro de 2004, Anatomia do Ódio.       

A reflexão vem a propósito das desesperadas fugas para debaixo da cama dos nossos cãezinhos Giga e Guli, da raça Chiuaua, a quem tratamos como se netos fossem, toda vez que o pipocar das bombas, nestes tempos de festas juninas, celebra nossos mais primitivos instintos. Explica-se porque cresce o movimento para subtrair dos álacres e luminosos fogos de artifício o espoucar que ofende nossos tímpanos e sensibilidade, levando o desespero aos nossos amados companheiros domésticos, como se já não bastasse a dedicação que conduz a intenso estresse pessoas que se dedicam a recolhê-los da fome, das doenças e do abandono das ruas, a exemplo da advogada e militante política, a baiana Ana Rita Tavares, que vem imolando sua saúde física e mental na busca , junto aos setores público e privado, de quem a socorra na maratona diária que empreende para assegurar a sobrevivência dos seus amados “filhinhos”, compostos de cães e gatos, resgatados dos perigos e das incertezas das ruas de Salvador e adjacências. Registre-se o apoio que Ana Rita vem recebendo do Secretário Municipal Cacá Leão, como fator de redução de sua diária agonia. 

Estima-se como muito baixo o percentual dos que não dão a menor importância ao destino dos animais que, por não serem “racionais”, seriam destituídos de sensibilidade, pouco importando qualquer esforço voltado para o seu bem estar, na contramão do que vêm empreendendo os povos mais avançados que têm tomado iniciativas para extinguir, nos limites do possível,  o sofrimento dos nossos irmãos de experiência existencial, sendo a supressão do sofrimento, quando do seu abate, a de curso já universalizado, com a dolorosa exceção das espécies piscosas, deixadas a morrer fora das águas, quando padecem inenarrável sofrimento, por excesso de ar, na versão humana de morte por afogamento. 

A Bahia que vem perdendo protagonismo, de modo tão acentuado, no plano das questões de interesse básico para a qualidade da vida das pessoas, em razão dos baixos padrões da escolaridade, saúde e segurança oferecidos ao seu povo, poderia tomar a marcante iniciativa de proibir a poluição sonora que tanto infelicita os que não possuem o dom de reivindicar ou protestar, expressando o seu desespero, sobretudo, cães e gatos. Até mesmo a um prefeito, esclarecido, sensível e corajoso, poderia caber a histórica iniciativa que o faria crescer aos olhos do mundo inteligente, assegurando-lhe o reconhecimento da posteridade. 

Pedimos a quem concordar com a sugestão que engrosse, com sua voz e ação, este apelo, um tijolo, apenas, a mais na construção da catedral de nosso avanço solidário. 

Joaci Góes

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