Ponto de Vista: Educação e criminalidade 

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Joaci Góes

Ao casal amigo Gisele e Fábio Cesconetto! 

O crescimento dos crimes violentos no Brasil, em geral, e na Bahia, em particular, só surpreende quem conhece entre pouco ou nada dos fatores conducentes a essa gênese cruel: uma combinação perversa entre a ausência de valores e a precariedade de conhecimentos por grande parte da população, vitimada pela educação de má qualidade, porque ainda praticada como sendo privilégio das elites, na contramão do clássico enunciado de Anísio Teixeira, verberado no já remoto ano de 1957, em livro famoso: Educação não é privilégio.  

Não deveria ser assim, concluímos nós, ao constatarmos o brutal declínio do ensino público brasileiro, em todos os níveis, sobretudo a partir da entronização das ideias de Paulo Freire, uma espécie de Antonio Gramsci brasileiro, que levou ao pé da letra a observação do pensador italiano sobre a necessidade de mentalizar a população, a partir da juventude, antes da implantação do regime comunista, de modo a evitar o massacre levado a efeito na União Soviética, por Josef Stalin, culminando na eliminação de 59 milhões de vidas, por questões exclusivamente ideológicas. Mais tarde, já morto Gramsci, desde 1937, foi a vez de Mao Tsé-Tung, na China, a partir de 1949, liquidar 68 milhões de vidas para, começando em 1978, com Deng Xiaoping, dar início ao regime fascista que, já em sua plenitude, comanda o país, com um discurso de esquerda para ilaquear a boa-fé da legião de ignorantes que, mundo afora, repete a tolice de apontar o progresso chinês como produto do ideal marxista. 

A correlação entre criminalidade e qualidade da educação, entendida como a associação de valores e conhecimento, deriva da inelutável circunstância de vivermos, desde a década de 1970, imersos na sociedade do conhecimento, daí resultando uma relação linear crescente entre a qualidade de vida dos povos e o seu nível educacional. O trabalho físico, regra ao longo de milênios, é de importância cada vez menor. O Brasil, uma das dez maiores potências econômicas do Globo, ocupa, desgraçadamente, o 80º lugar em matéria de qualidade da educação do seu povo. Essa a razão da distância abissal entre o que somos, uma República de Bananas, tomada de assalto por vândalos anéticos aboletados nos três poderes, e o que poderíamos ser, levando-se em conta o tamanho de nossas riquezas, usufrutuários de um IDH de padrão norte-americano, canadense ou australiano, ao invés das gritantes desigualdades e do populismo judiciário e político que perpetua nossa crescente insegurança coletiva, de que a destruição de vidas é a faceta mais dramática. 

Recorde-se a recente denúncia que um deputado egresso das hostes da Polícia Federal fez ao verboso e quelônico Ministro da Justiça:     “A desenvoltura com que o Senhor ingressou numa comunidade dominada pelo crime só é possível para pessoas da confiança dos marginais.”  

Desgraçadamente, o Brasil converteu-se no paraíso da criminalidade, no atacado e no varejo, onde a quem rouba muito estão reservadas as maiores homenagens, conquistas econômicas e políticas, com a legitimação por tribunais superiores, correndo os denunciantes o permanente risco de irem parar na cadeia, lugar reservado a pretos, pobres e putas. Estamos na contramão do poeta, onde “tudo vale a pena, quanto mais a alma for pequena!” 

O caso do garoto Lucas que, aos 14 anos foi seviciado e queimado vivo pelos seus algozes é emblemático de nossa protraída tragédia social: somente agora, 23 anos depois, os autores foram condenados, com o direito de recorrerem em liberdade. Ao longo desse martírio, os pais clamavam por punição, vagando como zumbis, pelas ruas da cidade, vindo a morrer à míngua do menor sinal de justiça. 

Para melhorar a educação, libertando-a do adonamento de partidos nanicos para eleger seus candidatos, compromissados, exclusivamente, com o processo eleitoral, um percentual do alunado poderia cursar escolas privadas, a custos sensivelmente inferiores ao per capita da ineficaz rede pública. 

Enquanto mantivermos os olhos cerrados para essa realidade palmar, o Brasil e a Bahia continuarão ocupando ominosas posições entre os lugares mais perigosos do Planeta. 

Joaci Góes

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