Ponto de vista: É imperioso que dê certo, 3 e final 

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Por Joaci Góes

Aos amigos e sobrinhos Cláudia e Cláudio Melo Filho! 

A criança destituída de berço promotor do seu desenvolvimento não pode perder a oportunidade de ter uma escola de qualidade, última possibilidade de salvar do naufrágio sua cidadania. É por isso que apenas um quarto dos alunos pobres que ingressam no ensino fundamental chega ao curso médio. Os demais, 75%, ficam no meio do caminho. E do total do alunado pobre, apenas 1% conclui o ensino universitário público, o que significa que, do modo como as coisas vão, será cada vez maior o já iníquo quadro das desigualdades interpessoais.     

O salto de qualidade obtido pelo município de Sobral, no Ceará, é consequência direta dos cuidados dispensados ao alunado das primeiras séries, entre eles os piores alunos a quem foram destinados bons professores, com prêmios de performance, tão estigmatizados pelo sindicalismo do atraso. Os alunos do município, submetidos pelo governo federal à Prova Brasil, avançaram em matemática de 170 para 270, alcançando um crescimento de 59% em seis anos, enquanto os alunos do município de São Paulo, que custam quase o dobro dos cearenses, chegaram a 197 pontos, quase 40% abaixo deles. Observe-se que enquanto os alunos de Sobral custaram, em média,  R$3.100,00 ao ano, os de São Paulo chegaram a R$6.000,00!      

O ensino privado brasileiro é melhor do que o público, apesar do mais baixo ganho do magistério privado, contrariamente ao que se imagina. O fato que mascara o reconhecimento da superioridade do ensino universitário privado sobre o público reside na maior qualidade dos alunos que conseguem ingressar na concorrida rede pública. É o rigor no cumprimento dos deveres escolares que faz a diferença na qualidade do ensino, em todos os lugares do mundo.  

Nossa educação elitista criou o ensino superior antes mesmo de termos uma rede pública de ensino fundamental. Priorizamos os andares superiores do edifício educacional brasileiro, descuidando das fundações e da estrutura, receita certa para o trágico desmoronamento traduzido nas ingentes desigualdades nacionais. 

Para que o anunciado propósito do Governo Federal, de melhorar a educação brasileira, dê certo, é indispensável corrigir os males que afetam o nosso ensino público, entre os quais avultam:  

  1. Despreparo dos professores para a realidade da sala de aula; 
  2. Baixa remuneração paga aos professores do ensino público básico, além da falta de um sistema meritocrático que beneficie os profissionais mais eficientes;  
  3. Ausência de um sistema de aperfeiçoamento continuado do magistério; 
  4. Baixa participação dos pais na atividade acadêmica dos filhos; 
  5. Professores sem formação adequada, sobretudo nas regiões mais pobres;  
  6. Métodos de ensino ultrapassados; 
  7. Inadequação entre os diferentes níveis de ensino, infantil, fundamental e médio; 
  8. Grade escolar destituída de atrativos ou desvinculada da realidade; 
  9. Altos índices de repetência e de abandono da sala de aula, sobretudo, por problemas financeiros; 
  10. Baixa permanência, quatro horas diárias, dos alunos na escola; 
  11. Excessiva burocratização do sistema escolar; 
  12. Insuficiente investimento para atender, com qualidade, as demandas do ensino; 
  13. Estrutura física deficiente, sobretudo nas regiões mais carentes, onde milhares de escolas não dispõem, sequer, de água encanada;  
  14. Enquanto o Brasil tem menos de 10% dos jovens no ensino profissionalizante, nos países desenvolvidos esse percentual, oscilante entre 30 e 70%, é, em média, de 42%, chegando a 52% na Alemanha e a 55% no Japão. Um dos nossos males maiores é destinar o ensino médio ao preparo para o ingresso na universidade, quando melhor seria prepararmos o alunado para o trabalho. Os verdadeiramente dotados de interesse sabem encontrar os caminhos para ingressar no ensino superior. 

A legislação brasileira representa lamentável entrave ao encaminhamento, na vida profissional, de jovens egressos das classes humildes. É o populismo aprofundando e perpetuando desigualdades. Em lugar da segurança do ambiente de trabalho, a demagogia hipócrita prefere manter nossa juventude exposta ao desemprego e ao múltiplo risco de nossas ruas. 

Só educação de qualidade pode salvar o Brasil do naufrágio.

JOACI GÓES

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