A escavação da área que pode abrigar o maior cemitério da América Latina, no bairro de Nazaré, em Salvador, teve início nesta quarta-feira (14) com um ato interreligioso que teve como objetivo respeitar a memória das pessoas que ali foram sepultadas.
Cerca de 100 mil escravizados, indigentes, pessoas escravizadas, prostitutas, suicidas, excomungados e condenados à morte foram enterradas no local, segundo a arquiteta e pesquisadora Silvana Olivieri. Nesta quarta-feira fazem 190 anos da execução dos líderes da Revolta dos Malês, o maior levante de escravizados da história da Bahia.
“Hoje é 14 de maio, um dia muito importante e simbólico para iniciar os trabalhos de pesquisa que visam confirmar a existência de um cemitério de escravizados. Se houver essa confirmação, nós teremos aqui talvez o maior cemitério de pretos novos da América Latina, com cerca de 100 mil pessoas enterradas, escravizados e lideranças de revoltas, como a Revolta dos Malês e a a Revolta dos Buzios, que são muito importantes para o protagonismo negro na história do Brasil. Esse é um achado de grande magnitude, mas é importante dizer que essas pessoas foram enterradas aqui sem nenhum ritual fúnebre”, afirmou a promotora de Justiça Lívia Vaz.
O acordo que tornou viável as escavações no estacionamento da Pupileira veio de um procedimento instaurado pelo MPBA, através do Núcleo de Defesa do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural (Nudephac).
“No evento de hoje buscamos uma reparação inicial, além de sacralizar e pedir permissão para que as pesquisas possam começar com esse ato simbólico que pode servir, inclusive de paradigma para várias outras atuações, uma vez que a gente também precisa ouvir essas lideranças que possam guiar nossa atuação na efetivação de direitos humanos e na reparação de memória dessas pessoas que foram violadas”, destacou o promotor de Justiça Alan Cedraz.
TROBUNA DA BAHIA