Em interrogatório na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) nesta terça (10), o ex-ministro da Justiça, Anderson Torres, minimizou o documento usado como uma das peças centrais da acusação sobre a suposta “trama golpista” contra a eleição do presidente Lula (PT). E chamou de “minuta do Google” a “minuta do golpe”, encontrada pela Polícia Federal em sua casa. Assista no fim da matéria.
“Na verdade, ministro, eu brinquei, não é a minuta do golpe, é a minuta do Google, porque está no Google até hoje. Esse documento, ministro, foi entregue ao meu gabinete, no Ministério da Justiça, eu levava diariamente duas pastas para minha residência. Uma delas com agenda do dia seguinte, eventuais minutas de discurso e outra com documentos gerais que vinham do Ministério. Eu realmente nem me lembrava dessa minuta, fui ver isso quando foi apreendido pela Polícia Federal, foi uma surpresa”, disse Torres.
O ex-ministro de Jair Bolsonaro (PL) é um dos oito réus interrogados desde ontem no âmbito da Ação Penal (AP) 2668, em que a Procuradoria-Geral da República (PGR) acusa o ex-presidente e a cúpula de seu governo de crimes para impedir que o vencedor das eleições presidenciais de 2022 governasse.
Torres tratou como “fatalidade” terem encontrado a minuta em um armário de sua casa, com a sugestão de uma intervenção chamada de “estado de defesa” contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), como forma de anular a eleição de Lula contra Bolsonaro. Porque nunca tratou do tema com o ex-presidente e teria encaminhado o papel para descarte.
“Isso foi colocado para ser descartado. Eu nunca tratei isso com o presidente da República, eu nunca tratei isso com ninguém, isso veio até o meu gabinete no Ministério da Justiça. Foi organizado pela minha assessoria que isso veio num envelope dentro e foi parar na minha casa. Mas eu nunca discuti esse assunto, nunca trouxe isso a tona. Foi uma fatalidade que aconteceu, porque já era para ter sido destruída há muito tempo. Não é da minha lavra, não sei quem fez, não sei quem mandou fazer. Eu nunca, nunca, nunca discuti esse assunto”, afirmou o ex-ministro.
‘Pesadelo’ nos EUA
Então secretário de Segurança do Distrito Federal, Anderson Torres disse ter perdido seu celular e até dólares, porque ficou “transtornado” ao saber, nos Estados Unidos, da determinação de sua prisão, dois dias após os ataques violentos de 8 de Janeiro de 2023, que destruíram as sedes dos Três Poderes da República, em Brasília. A fala confronta suspeitas de extravio do celular para dificultar as investigações, na ocasião em que viajava com a família para Disney, alegando estar de férias, que iniciaria oficialmente apenas no dia 9 de janeiro.
“Eu perdi meu telefone, acho que aquele momento foi o mais duro da minha vida. Eu saí daqui [do Brasil] como Secretário de Segurança e no dia 10 saiu minha prisão. Isso me deixou completamente transtornado, eu perdi completamente o equilíbrio com aquela notícia da prisão e nesse contexto eu acabei perdendo o meu celular. […] Cheguei no Brasil e forneci a senha da nuvem do meu celular”, afirmou no interrogatório.
Em outros pontos do depoimento, Torres apontou falhas da Polícia Militar no cumprimento do plano de segurança para o dia dos ataques. E descartou ter identificado fraudes à urna eletrônica.
As oitivas iniciadas ontem (9) pelo delator e tenente-coronel, Mauro Cid, e pelo deputado federal e delegado da Polícia Federal, Alexandre Ramagem (PL-RJ), foram retomadas a partir das 9h desta terça, com questionamentos ao almirante Almir Garnier, que comandou a Marinha no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro, também denunciado neste chamado “núcleo 1” ou “núcleo crucial” da ação. E prossegue ouvindo um total de oito réus deste grupo denunciado.